Já no que se refere à digitalização, Margarida Corrêa de Aguiar defende que é preciso acompanhar a evolução que a tecnologia oferece, mas "sem esquecer o cliente no centro das atenções". No entanto, acredita que esta mudança está a desenvolver a atividade, a tornar as empresas mais competitivas e a dar mais tempo ao mediador para fazer o que faz melhor: ajudar, aconselhar e descomplicar. "O mediador continuará a ser a face mais humana dos seguros", reforça.
A fechar a sessão de abertura do congresso esteve João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças, que reforçou a importância do setor segurador na economia nacional e no apoio às famílias e às empresas. O governante recordou também o peso do investimento das seguradoras que rondou, em 2022, os 50 mil milhões de euros e a sua contribuição para o crescimento da economia, cujas projeções da União Europeia para 2023 foram recentemente revistas em alta, para os 2,4%.
David Pereira, presidente da APROSE, aproveitou a presença do representante do Governo e do Regulador para entregar em mãos a proposta que permite poupanças significativas nos seguros dos créditos à habitação, e que a associação gostaria que ajudasse a sensibilizar os legisladores. Recorde-se que esta proposta resulta de um estudo aprofundado aos valores dos prémios dos seguros celebrados aos balcões dos bancos, que conclui que a poupança por contrato, se for celebrado em mercado livre, pode chegar a cerca de 50% por mês. "Defendemos o acesso livre e universal ao mercado aberto e o fim dos "pacotes de crédito", uma pressão dos bancos com o argumento de redução dos spreads", explica.
Tecnologia é apenas uma ferramenta
O futuro dos modelos de distribuição de seguros, o perfil do mediador do futuro, e os desafios da tecnologia e da inteligência artificial na atividade seguradora estiveram em debate nos três painéis do dia. De forma resumida, a ideia que fica é a de que, de forma generalizada, os mediadores estão a fazer o seu caminho na transformação digital dos seus negócios, e a adaptar-se a uma realidade mais assente na tecnologia. Isto não significa, contudo, que a proximidade que sempre caracterizou a rede de distribuição de seguros deixe de existir, ou que os mediadores sejam substituídos por robôs ou chatbots. Pelo contrário, disseram os convidados, a tecnologia permite libertar tempo porque assegura as tarefas administrativas e rotineiras, deixando a porta aberta à criatividade e à inovação, onde o fator humano faz a diferença.
Há, apesar disso, um caminho a percorrer no reforço da profissionalização dos mediadores que, na perspetiva de António Vasconcelos, "têm que portar-se e pensar como empresários". Para o representante da APROSE, que participou no painel Modelos de distribuição de seguros: que futuro, a regulação é determinante neste ponto, para informar e orientar. Mas, para fazê-lo, acrescenta Mário Vinhas da MDS, "é preciso formar, desenvolver competências, e apostar nos dois pilares que sustentam esta atividade: as pessoas e a tecnologia".
Ainda no mesmo painel, Carlos Varela, da Allianz, recordou que a rede de mediação nacional é das melhores a operar a nível global "com uma capacidade de empreendedorismo surpreendente e com modelos de mediação bem-sucedidos". Agora, acrescenta, os desafios passam por "chegar a novos segmentos, com modelos de negócio bem definidos e muita segurança nas decisões".
Joana Pina Pereira, da Tranquilidade, defendeu, no painel que debateu o perfil do mediador do futuro, que "a tecnologia é uma premissa, mas o que permanece são as capacidades humanas de empatia e de aconselhamento". É claro que, como admite, a tecnologia, nomeadamente a IA permite utilizar modelos analíticos que ajudam a tomar decisões e a conhecer o mercado, "mas será a criatividade da mediação a definir produtos novos e inovadores". "Cabe ao humano customizar a proposta de valor digital criada pelos algoritmos", complementa Gustavo Barreto. O mediador do futuro terá também a responsabilidade de antecipar riscos e necessidades ao cliente. "Uma espécie de desenhador de produtos, que já começa a ser uma tendência", acrescenta ainda Nuno Catarino.
Feitas as contas, os mediadores correm o risco de ser substituídos por robôs? A resposta é unânime: não. "Esta atividade tem a missão muito nobre de ajudar as pessoas e isso é eminentemente humano", aponta Rita Almeida, da Liberty. "Não vamos competir com robôs", complementa Ana Teixeira, da Mudey, que reforça: "tecnologia é uma ajuda para valorizar o trabalho da mediação, automatizar o rotineiro e deixar o criativo e emocional para as pessoas". Um aliado para atrair e reter talento na profissão é a perspetiva de Ezequiel Silva, da Seguramos, "porque a parte humana é tudo quando as coisas correm mal".
Dinheiro Vivo 20/05/2023