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"Mediador é a face mais humana dos seguros"

9º Congresso da APROSE

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Atividade ainda pouco valorizada, mas fundamental na proteção e nos momentos difíceis. Capacidade de reinvenção durante a pandemia e introdução da tecnologia alteraram paradigma do setor. Proximidade e relação com cliente são fator de diferenciação. Robôs não são ameaça à profissão.

 

No fim de um dia intenso de debate, a conclusão mais evidente que sai do 9º Congresso da APROSE (Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros) é a de que a tecnologia é um aliado de mediadores, corretores e seguradoras, e uma ferramenta indispensável para a prestação de um serviço mais eficiente, personalizado e humanizado. E se, porventura, no auditório do Centro de Congressos do Estoril existiam, na manhã deste sábado, dúvidas sobre a sobrevivência da tradicional rede de distribuição de seguros, potencialmente ameaçada pela digitalização e pelas potentes ferramentas de inteligência artificial, com o passar das horas foram-se dissipando. Fica a mensagem otimista dos profissionais de uma atividade que movimenta anualmente mais de 100 mil milhões de euros, e que conta com um peso crescente na economia nacional.

 

Ainda assim, na opinião de Margarida Corrêa de Aguiar, o papel dos seguros ainda é pouco valorizado em Portugal. A presidente da ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões -, que falava durante a sessão de abertura do congresso da APROSE, recordou, contudo, a sua importância para a proteção de riscos e para o investimento, e o desempenho muito positivo do setor no pós-pandemia. "A capacidade de reinvenção durante a pandemia foi notável e fundamental para garantir a proteção dos clientes, sem perder a proximidade territorial", salientou.

 

A responsável da ASF destacou igualmente a distribuição como o "pilar fundamental" do funcionamento do setor, e a crescente profissionalização da rede de mediação, muito por fruto das exigências do novo regulamento jurídico que comporta "maior qualificação e transparência na atividade". Esta exigência refletiu-se na redução no número de empresas de mediação que eram cerca de 19 mil em 2018, para as atuais 10 700. Uma redução que tem uma análise positiva por parte da presidente da ASF, uma vez que, como diz, "reflete a introdução de boas práticas que resultam em níveis de desempenho mais elevados, e em profissionais mais competentes".

Já no que se refere à digitalização, Margarida Corrêa de Aguiar defende que é preciso acompanhar a evolução que a tecnologia oferece, mas "sem esquecer o cliente no centro das atenções". No entanto, acredita que esta mudança está a desenvolver a atividade, a tornar as empresas mais competitivas e a dar mais tempo ao mediador para fazer o que faz melhor: ajudar, aconselhar e descomplicar. "O mediador continuará a ser a face mais humana dos seguros", reforça.

 

A fechar a sessão de abertura do congresso esteve João Nuno Mendes, secretário de Estado das Finanças, que reforçou a importância do setor segurador na economia nacional e no apoio às famílias e às empresas. O governante recordou também o peso do investimento das seguradoras que rondou, em 2022, os 50 mil milhões de euros e a sua contribuição para o crescimento da economia, cujas projeções da União Europeia para 2023 foram recentemente revistas em alta, para os 2,4%.

 

David Pereira, presidente da APROSE, aproveitou a presença do representante do Governo e do Regulador para entregar em mãos a proposta que permite poupanças significativas nos seguros dos créditos à habitação, e que a associação gostaria que ajudasse a sensibilizar os legisladores. Recorde-se que esta proposta resulta de um estudo aprofundado aos valores dos prémios dos seguros celebrados aos balcões dos bancos, que conclui que a poupança por contrato, se for celebrado em mercado livre, pode chegar a cerca de 50% por mês. "Defendemos o acesso livre e universal ao mercado aberto e o fim dos "pacotes de crédito", uma pressão dos bancos com o argumento de redução dos spreads", explica.

 

 

Tecnologia é apenas uma ferramenta

 

O futuro dos modelos de distribuição de seguros, o perfil do mediador do futuro, e os desafios da tecnologia e da inteligência artificial na atividade seguradora estiveram em debate nos três painéis do dia. De forma resumida, a ideia que fica é a de que, de forma generalizada, os mediadores estão a fazer o seu caminho na transformação digital dos seus negócios, e a adaptar-se a uma realidade mais assente na tecnologia. Isto não significa, contudo, que a proximidade que sempre caracterizou a rede de distribuição de seguros deixe de existir, ou que os mediadores sejam substituídos por robôs ou chatbots. Pelo contrário, disseram os convidados, a tecnologia permite libertar tempo porque assegura as tarefas administrativas e rotineiras, deixando a porta aberta à criatividade e à inovação, onde o fator humano faz a diferença.

 

Há, apesar disso, um caminho a percorrer no reforço da profissionalização dos mediadores que, na perspetiva de António Vasconcelos, "têm que portar-se e pensar como empresários". Para o representante da APROSE, que participou no painel Modelos de distribuição de seguros: que futuro, a regulação é determinante neste ponto, para informar e orientar. Mas, para fazê-lo, acrescenta Mário Vinhas da MDS, "é preciso formar, desenvolver competências, e apostar nos dois pilares que sustentam esta atividade: as pessoas e a tecnologia".

 

Ainda no mesmo painel, Carlos Varela, da Allianz, recordou que a rede de mediação nacional é das melhores a operar a nível global "com uma capacidade de empreendedorismo surpreendente e com modelos de mediação bem-sucedidos". Agora, acrescenta, os desafios passam por "chegar a novos segmentos, com modelos de negócio bem definidos e muita segurança nas decisões".

 

Joana Pina Pereira, da Tranquilidade, defendeu, no painel que debateu o perfil do mediador do futuro, que "a tecnologia é uma premissa, mas o que permanece são as capacidades humanas de empatia e de aconselhamento". É claro que, como admite, a tecnologia, nomeadamente a IA permite utilizar modelos analíticos que ajudam a tomar decisões e a conhecer o mercado, "mas será a criatividade da mediação a definir produtos novos e inovadores". "Cabe ao humano customizar a proposta de valor digital criada pelos algoritmos", complementa Gustavo Barreto. O mediador do futuro terá também a responsabilidade de antecipar riscos e necessidades ao cliente. "Uma espécie de desenhador de produtos, que já começa a ser uma tendência", acrescenta ainda Nuno Catarino.

 

Feitas as contas, os mediadores correm o risco de ser substituídos por robôs? A resposta é unânime: não. "Esta atividade tem a missão muito nobre de ajudar as pessoas e isso é eminentemente humano", aponta Rita Almeida, da Liberty. "Não vamos competir com robôs", complementa Ana Teixeira, da Mudey, que reforça: "tecnologia é uma ajuda para valorizar o trabalho da mediação, automatizar o rotineiro e deixar o criativo e emocional para as pessoas". Um aliado para atrair e reter talento na profissão é a perspetiva de Ezequiel Silva, da Seguramos, "porque a parte humana é tudo quando as coisas correm mal".

 

Dinheiro Vivo 20/05/2023

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