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As cheias, a oração e o formulário do seguro

David Pereira, Presidente da Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros (APROSE)

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Parece contraditório, mas não é.

 

Os fenómenos naturais extremos e repentinos, como as cheias ou os incêndios, surpreendem-nos. Mas não são uma surpresa. Podem ser mais ou menos cíclicos, mas sempre existiram. E vão continuar a existir.

 

Uma das respostas que criámos para estes fenómenos foi a mutualização dos impactos desses riscos. A contribuição para um fundo comum que é acionado quando um de nós precisa de ser ressarcido financeiramente. Noutras palavras: o seguro.

 

Por muito que não se goste deste princípio, os seguros, são claros: recebe-se apenas o que se paga. Se não pagámos por um risco, não estaremos cobertos nesse risco específico quando o sinistro ocorre.

 

Uma realidade por demais evidente quando temos fenómenos como as recentes cheias. E nas notícias ficou, uma vez mais, claro que continuam a existir muitos particulares e empresas que optaram por não cobrir os riscos associados à sua atividade, vida ou património, com seguros. Como, da mesma forma, também ficou claro que (demasiadas) vezes quem tem um seguro, fá-lo sem coberturas que possam ser acionadas no caso concreto.

Porquê?

 

Porque muitos continuam a preferir as orações a Santa Bárbara à cobertura do seguro. Uma opção mais económica, mas muito menos eficiente em caso de sinistro. A oração fica sempre mais barata no curto prazo.

 

Porque tantos outros particulares ou empresas não tiveram o aconselhamento devido na altura de subscrever um seguro, que em muitos casos até é obrigatório.

 

As perguntas mais importantes são sempre: O que queremos realmente proteger? O que estamos a pagar? E se nos vai servir num cenário real? Que pormenores devemos deixar tratados já, que listas de recheio, valores patrimoniais atualizados, ou checklist adequada a cada caso devemos elaborar previamente?

 

E estas são questões que não se tratam nem online, nem ao balcão de entidades que não são especializadas em seguros. Ou, noutros casos, que não são sequer independentes face às companhias de seguros.

 

As cheias de Lisboa demonstraram, pela pior forma possível, que um seguro não se pode comprar ou vender como um enlatado num estabelecimento não especializado. Um seguro, para nos proteger adequadamente, dificilmente se vende online, e nunca deve ser vendido sem um aconselhamento especializado adequado a cada caso.

 

Um mediador profissional e independente é um especialista que o apoia na identificação dos riscos e na própria gestão dos sinistros, junto da companhia de seguros.

E uma das lições que devemos tirar destas cheias é mesmo que contrate seguros com quem sabe. É para isso que cá estamos.

 

Jornal de Negócios 20/12/2022

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